quarta-feira, 27 de junho de 2012

Lula está fazendo de São Paulo um trampolim


Gilbertto Dimenstein

Folha Online


Lula está batendo em José Serra, acusando-o de fazer da cidade um trampolim --e está batendo num ponto frágil, devido ao histórico tucano de ter interrompido seu mandato. Mas quem, neste momento, está fazendo de São Paulo apenas um trampolim é o ex-presidente.

Ele indica, em seus discursos, que vai tentar nacionalizar o debate eleitoral na cidade de São Paulo. Compreensível: se ele jogar Serra nesse campo, o tucano ficará ainda mais com jeito de candidato a presidente frustrado do que de prefeito.

Ao propor o debate nacional, Lula está, em suma, mandando o seguinte recado: não estou preocupado com soluções locais. E solução local é o que esse caos urbano chamado São Paulo precisa --e precisa urgentemente.

Datafolha mostra que está caindo sua capacidade de influir no voto do eleitor paulistano. Certamente, sua foto com Maluf, também como mostrou a pesquisa, vai trazer mais prejuízos do que benefícios. No mínimo, já abateu o ânimo dos militantes petistas.

Se continuar, vai virar um anticabo eleitoral.

domingo, 24 de junho de 2012

As aparições de "Inoxorável Lula"


JÂNIO DE FREITAS

Folha de São Paulo

Eremildo é um idiota e ainda usa as camisetas velhas das campanhas de Paulo Maluf a presidente, governador, prefeito e deputado. Encantou-se com o artigo do presidente do PT paulista, o sociólogo Edinho Silva, publicado na Folha de sexta-feira.

É uma acrobática defesa da aliança do comissariado com o Partido Popular na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Menciona Luiza Erundina, Gramsci e cita Paulo Freire.

No artigo, o doutor referiu-se três vezes ao Partido Popular, mas não mencionou Paulo Maluf, objeto do desejo da aliança, dono do PP de São Paulo e do jardim onde Nosso Guia e Fernando Haddad foram fotografados selando o pacto lulo-malufista.

O idiota acha que foi distração.

Ao ler a citação de Paulo Freire, frequentemente repetida por Lula, "vamos juntar os diferentes para vencermos os antagônicos", acreditou que seria melhor reordená-la: "Vamos juntar os antagônicos para vencermos os diferentes".

ATRIBUEM ao filósofo húngaro Giorgy Lukacs a seguinte afirmação: "O erro de Stálin não foi ter assinado um acordo com Hitler, foi ter acreditado nele". Em 1939, Stálin aliou-se ao Reich e comeu um pedaço da Polônia. Dois anos depois, Hitler invadiu a Rússia, e o Guia Genial dos Povos, incrédulo, entrou em estado de catatonia.

Pensando bem, Stálin não acreditou no pacto (tanto que acelerou a produção de armas), acreditou em si. Desprezou pelo menos 80 avisos de que Hitler atacaria, inclusive dois deles com a data.

Lula cavalga uma desastrosa autoconfiança. Longe dos mecanismos do poder, com os movimentos e a oratória limitados, investiu-se de um desembaraço autocrático que, em seis meses, produziu três desastres:
1) Sem discutir os prós e contras da ideia, participou de uma cenografia para abrilhantar a adesão de Paulo Maluf à candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Humilhou Luiza Erundina e detonou a chapa petista, levando os companheiros a catar vice até no falecido movimento "Cansei", teoricamente destinado a combater a corrupção. (A ex-prefeita aceitava o apoio de Maluf, desde que não houvesse espetáculos como o do jardim do palacete da rua Costa Rica. O mesmo se pode dizer do tucanato, que buscava intermediações para negociar com Maluf.)
2) Sem ouvir os interessados, meteu-se num périplo, catituando junto a ministros do Supremo a postergação do julgamento do mensalão. Foi detonado pela exposição da manobra.
3) Impôs ao PT uma aliança com o prefeito Gilberto Kassab, atropelando a senadora Marta Suplicy, que não queria "acordar de mãos dadas" com seu adversário. Dias depois, Lula acordou sozinho e viu Kassab abraçado ao PSDB.

Deixando-se de lado o conteúdo das decisões (o que não é pouca coisa), cometeu três erros. Chutou três vezes e três vezes marcou contra o próprio gol.

A doutora Dilma acha que a crise financeira mundial é influenciada pelo fator "Inexorável da Silveira". Seu governo terá que lidar com outro fator, o do "Inexorável da Silva". Por enquanto, ele restringiu-se à casa de louças petista, mas o perigo é que vá além, encrencando o governo.

Os "inexoráveis" acham que podem tudo.