segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"Reflexões sobre o genocídio em Gaza"

Este texto é uma resposta à pensata de Sérgio Malbergier

TÁLIB MOYSÉS MOUSSALLEM
especial para Folha Online

"O mundo volta os olhos, estarrecido, ao que ocorre no território hoje chamado Israel. Choca a brutalidade do exército de Israel contra civis desarmados, agências de ajuda humanitária e, quem diria, até a própria ONU (Organização das Nações Unidas).

Justifica-se tais ataques como sendo forma de proteção e "direito à autodefesa". Esta justificativa não cabe mais numa sociedade globalizada e com acesso direto às mais diversas fontes de informação. Nem o mais inocente acreditaria em tal denominação para uma resposta agressiva e desproporcional, que visa extermínio em massa e disseminação de pânico e terror.
Se por um lado os palestinos são chamados de terroristas, por outro Israel também não deixa barato, com seu terrorismo de Estado, muito bem aprendido por Tzipi Livni [ministra de Relações Exteriores de Israel] com os seus antepassados dos grupos Irgun e Stern, precursores do terrorismo atual.


Lamentavelmente, nem sempre nas nossas escolas a história é passada a limpo. Pergunte a qualquer cidadão do Oriente Médio o que é Deir Yassin. Uma breve pesquisa na Internet dará a resposta ao leitor, para que o mesmo conheça os primórdios do que hoje é Israel. E olha que este foi simplesmente o início do que o povo palestino vem sofrendo há 60 anos.

Para a violência não há justificativa. Somo a minha voz às daqueles palestinos renomados, como Edward Said e Hannan Ashrawi, que condenam os ataques palestinos. Os ataques com os foguetes Qassam devem cessar imediatamente. É preciso que o povo palestino não aceite esta forma de se pressionar alguém para ir à mesa de negociações.

Ataques com homens-bomba, com foguetes, ou qualquer outra forma violenta só pioram a imagem dos palestinos e os colocam em pé de igualdade moral com aqueles que hoje aniquilam seu povo, aumentando a espiral de violência, num jogo de vingança ridícula e sem fim.

Mas, é hora de se perguntar por que não se chega a um acordo de paz na região.


Do ponto de vista dos críticos renomados, como Noam Chomsky, ainda não se sabe o que quer dizer "processo de paz" ou "comunidade internacional", termos tão usados na imprensa.

Processo de paz nos dá a sensação de que é um processo cujo único objetivo é postergar a paz.


Há quantos anos o leitor ouve falar de "processo de paz"? Toda vez que se vota uma resolução da ONU, Israel viola e fica por isso mesmo. Ao contrário de outras nações que violaram resoluções, como o Iraque e de pronto foi atacado (em 1991) e, mesmo sem resolução ou propósito claro foi atacado em 2003. Hoje em dia, nem mais resoluções da ONU se tem, pois os Estados Unidos vetam todas e quaisquer onde Israel tenha que ceder um mínimo.

Será que a "comunidade internacional" que permite a invasão do Iraque por uma força esmagadora --como o Exército dos EUA- é a mesma que permite que um banho de sangue pavoroso como o atual ocorra, sem qualquer punição ou intervenção?


Afinal de contas: quem é a "comunidade internacional"?


Impressiona que lemos e ouvimos que ela não pode aceitar fanáticos como iranianos desenvolvendo energia atômica, mas a mesma comunidade aceita que fanáticos de Israel tenham bomba atômica --Mordechai Vanunu que o diga e pagou anos a fio na prisão por denunciar a usina de Dimona.

Se ontem o mundo chorou (e ainda chora muito) os horrores do holocausto nazista, hoje chora o genocídio palestino perpetrado pelo poderoso Exército israelense. Não se pode justificar os crimes hediondos de hoje pelos atos sofridos no passado. Imagine se todos outros povos que sofreram genocídios resolvessem se vingar em outro povo do que sofreu no passado. O mundo estaria tomado por guerras e mais guerras.

Se hoje a desesperança de paz reina, há que se ouvir vozes a favor da paz. Acredito que as únicas forças capazes de mudar esse cenário são os moderados de um lado e do outro. Se do lado palestino há Mahmoud Abbas com sua ala de moderados, também em Israel há muito mais do que os atuais representantes sanguinários.


Felizmente, em Israel --que tem nas suas mãos a chance da paz por ser a força mais poderosa da região-- há grupos que não se calam.

B'tselem, Neturei Karta, Yesh Gvul, Peace Now, Courage to Refuse são alguns representantes daqueles que realmente querem a paz.

Acompanhe seus trabalhos pela Internet e verá que a sociedade israelense tem muitas pessoas de coragem que não se calam frente ao que hoje assistem.

A paz "justa e duradoura" que tanto o presidente (?) [George W.] Bush falou e só atuou contra, só virá com um acordo onde os dois povos vivam lado a lado em dois Estados independentes sem interferência de um no outro, como queria fazer Ehud Barak nos vergonhosos acordos de Camp David, muito bem rejeitados por Arafat.

É preciso se voltar às fronteiras de 1967 e se decidir o que fazer com os refugiados e com o futuro de Jerusalém.

Se eu tivesse em minhas mãos o poder de decidir o que seria feito pela paz, não pensaria duas vezes: traria ao Brasil representantes de Israel e da Palestina para que pudessem passar aqui um tempo, testemunhar e aprender com as comunidades judaica e árabe brasileiras vivendo em paz e harmonia, como irmãos."

Tálib Moysés Moussallem, 33, é brasileiro, médico infectologista.

domingo, 11 de janeiro de 2009

O cinísmo de uma nação

Na guerra da opinião pública até o governo brasileiro tenta tirar sua casquinha.

É cínica a posição do governo brasileiro de enviar 14 t. de ajuda dita "humanitária" para Gaza, assim como foi cínica a declaração do presidente Luis Inácio de que "eles precisam parar de se matar”.

Sabem por quê?

Todos viram na televisão e em fotos de jornais aqueles chuviscos no céu parecendo fogos de artifício.

Pois bem... Aquilo são bombas de fragmentação, também chamadas de "bombas burras", que explodem ainda no céu se multiplicando em centenas de outras bombas menores que caem sem nenhuma direção. São elas, junto com as chamadas "bombas de fósforo", e os torpedos lançados pelos tanques israelenses contra tudo que se move, a maior causa pelos mais de 800 mortos em Gaza, a maior parte civis crianças.


E não é que o governo brasileiro se alinhou a grupo de países, entre eles EUA, Israel e Índia, para barrar um tratado que acabaria de vez com as chamadas "bombas de fragmentação", quando mais de cem países assinaram o acordo.

E a razão é simples: o Brasil é um dos grandes fabricantes e fornecedor deste tipo de bomba, e o governo Luis Inácio na defesa dos interesses da indústria da guerra impede que esse tipo de armamento deixe de ser fabricado.

Portanto, nada mais cínico do que enviar ajuda humanitária (por sinal, como diria o presidente, "uma mixaria" diante dos milhões de dólares que a indústria bélica brasileira fatura com a exportação de armas de guerra), e ainda querer fazer propaganda quando que, no fundo o Brasil também está por trás dessa matança.

Leia no site da BBC-Brasil:

Brasil fica fora de acordo contra bombas de fragmentação
País não está entre os mais de cem que devem assinar tratado sobre polêmica arma.

Países fecham acordo para banir bombas de fragmentação
Tratado prevê destruição de arsenais em oito anos; Brasil e Estados Unidos se opõem.

Brasil é pressionado em conferência contra bombas de fragmentação
Fabricante e exportador, país não participa do Processo de Oslo, que busca proibição.

A "hasbara" não favorece a palestina


O jornalista Gustavo Chacra, que escreve o excelente blog "Diário do Oriente Médio" publicou um post intitulado "Árabes aprenderam a fazer relações públicas e hoje superaram os israelenses".

O artigo tenta dar a impressão que o mundo todo vem se indignando contra os horrores dessa guerra e as atrocidades que Israel vem cometendo contra o povo palestino, graças a uma formidável sucessão de erros de comunicação por parte de Israel, e a uma verdadeira máquina de informação montada pelos árabes, capitaneada pela rede Al-Jazeera.

Não é o que parece.

Em entrevista a Folha On-Line, o escritor e jornalista Philip Knightley, do Jornal "Sunday Times", e intitulada "Israel tem mais porta-vozes que os EUA" ele diz:

"É muito sofisticada (a máquina de propaganda israelense). Todos os porta-vozes são altamente treinados para o contato com a mídia, repetem sempre a mesma mensagem, num inglês impecável. (...) Eles têm muitos porta-vozes, mais até do que os EUA. Você vê o porta-voz do Ministério da Defesa, do Interior, das Relações Exteriores, homens, mulheres, embaixador para a ONU, embaixador para o Reino Unido. Passa a impressão de uma grande quantidade de pessoas de peso que têm sempre a mesma visão, repetindo sempre a mesma história."

Sobre a propaganda palestina diz Kinightley:

"Eles querem defender sua posição, e mostrar gente sofrendo pode ser um tipo de propaganda. Uma contra a outra, a israelense ainda é muito mais eficiente. É muito ocidentalizada. Os palestinos chegaram muito atrasados à ideia de propaganda. Eles ingenuamente acreditaram que sua causa seria salva pelos seus méritos. E isso não é suficiente contra máquinas sofisticadas como a israelense e a norte-americana."

No mais tanto Gustavo Chacra como Philip Kinightley concordam ser um grande erro a não entrada de jornalistas em Gaza para mostrar a guerra.

"É claro que, se a TV mostrasse a verdadeira e horrorosa face da guerra, não seria possível para Israel manter sua posição" disse Kinightley.