sábado, 21 de outubro de 2006

A incrível história do Ronaldinho do Lula

Sob o título "Porque não pode todomundo ser o Ronaldinho" - explicação do presidenteLula para o tremendo sucesso de seu filho Fábio Luís, que coincide com o mandato presidencial do pai - a
Revista Veja publica esta semana a verdadeira história do sucesso do filho do presidente.
"Como aconteceria com qualquer pai, o presidente Lula tem demonstrado o orgulho que sente pelo sucesso de seu filho Fábio Luís Lula da Silva. Aos 31 anos, Lulinha, apelido que ele detesta, é um empresário bem-sucedido. É sócio de uma produtora, a Gamecorp, que, com um capital de apenas 100.000 reais, conseguiu fazer um negócio extraordinário: vendeu parte de suas ações à Telemar, a maior empresa de telefonia do país, por 5,2 milhões de reais. Como a Telemar tem capital público e é uma concessionária de serviço público, a sociedade com o filho do presidente sempre causou estranheza. Na segunda-feira passada, em entrevista ao programa Roda Viva, Lula teve de falar em público sobre os negócios do filho. "Não posso impedir que ele trabalhe. Vale para o meu filho o que vale para os 190 milhões de brasileiros. Se têm alguma dúvida, acionem ele", afirmou. Dois dias depois, em entrevista à Folha de S.Paulo, o assunto Lulinha voltou ao foco. Os jornalistas lhe apresentaram uma questão formulada por um leitor do jornal, que não foi identificado. A pergunta dizia o seguinte: "Tenho 61 anos, sou pai de quatro filhos adultos, todos com curso superior, mas com dificuldades de bons empregos ou de empreender. Como é que o seu filho conseguiu virar empresário, sócio da Telemar, com capital vultoso de 5 milhões de reais?".
Em sua resposta, o presidente Lula começou explicando que seu filho virou sócio da Gamecorp quando a empresa, fundada por alguns amigos em Campinas, já tinha mais de dez anos de vida. "Eles fizeram um negócio que deu certo. Deu tão certo que até muita gente ficou com inveja", disse. Em seguida, o presidente fez menção às suspeitas que cercam a sociedade da Gamecorp com a Telemar. "Se alguém souber de alguma coisa que meu filho tenha cometido de errado, é simples: o meu filho está subordinado à mesma Constituição a que eu estou", disse o presidente, fazendo logo depois uma divagação comparativa que já nasceu imortal: "Porque deve haver um milhão de pais reclamando: por que meu filho não é o Ronaldinho? Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho". Os entrevistadores gostaram do paralelo estabelecido pelo presidente entre seu filho e o astro do futebol e perguntaram se não seria mais fácil virar um Ronaldinho quando se é filho do presidente. Lula respondeu: "Não é mais fácil, pelo contrário, é muito mais difícil. E eu tenho orgulho porque o fato de ser presidente da República não mudou um milímetro o hábito dos meus filhos".
Pouco ou nada se sabe dos hábitos dos filhos de Lula antes ou depois de o pai receber a faixa presidencial. Mas a trajetória profissional de Fábio Luís mudou e muito. Foi só depois da posse que seus dons fenomenais começaram a se expressar – e com tal intensidade a ponto de o pai ver nele um Ronaldinho dos negócios. Ele mostrou talento para as comunicações e, como se lerá nesta reportagem de VEJA, para a atividade de lobista junto ao governo. A reportagem revela que o filho do presidente associou-se ao lobista Alexandre Paes dos Santos, um personagem explosivo, que responde a três inquéritos da Polícia Federal, por suspeitas de corrupção, contrabando e tráfico de influência. Esse dom do filho do presidente se revelaria ainda no episódio de sua associação com a Telemar.
Sabe-se agora que os 15 milhões de reais investidos pela Telemar na empresa de Lulinha não foram um investimento qualquer. As circunstâncias sugerem que o objetivo mais óbvio seria comprar o acesso que o filho do presidente tem a altas figuras da República. O setor de telefonia estava e está em uma guerra em que, a se repetir a tendência mundial, haverá apenas um ou dois vencedores. Ganhar fatias do adversário é vital. Houve uma corrida entre grandes empresas de telecomunicações para ver quem conseguia alinhar o filho do presidente entre seu time de lobistas. A Telemar venceu. A maior empresa de telecomunicações do Brasil em faturamento e em número de telefones fixos instalados, e com 64% do território nacional coberto por ela, a Telemar é uma empresa cujo faturamento anual supera 7 bilhões de dólares. A aposta na associação com Lulinha acabou não sendo muito produtiva para a Telemar porque o escândalo veio à tona. Mas foi por pouco. O governo negociava a queda de barreiras legais que impedem a atuação nacional de empresas de telefonia fixa. Além disso, por orientação do governo, fundos de pensão de estatais preparavam-se para vender fatias relevantes de sua participação acionária no setor. Quem estivesse mais perto do poder se sairia melhor.
O Ronaldinho do presidente Lula é mesmo um fenômeno. Formado em biologia, ele ainda era chamado de Lulinha, apelido que os amigos hoje evitam, quando trabalhava como monitor no zoológico de São Paulo, com um salário de 600 reais por mês. Para reforçar seus ganhos, dava aulas de inglês e computação. Do ponto de vista profissional e financeiro, vivia uma situação que parece ser muito semelhante à dos quatro filhos com curso superior do leitor da Folha. Em dezembro de 2003, no entanto, quando Lula estava em via de completar seu primeiro ano no Palácio do Planalto, Lulinha começou sua decolagem rumo à galeria exclusiva dos indivíduos fenomenais. Junto com Kalil e Fernando Bittar, filhos de Jacó Bittar, ex-prefeito de Campinas e um velho amigo do presidente, Fábio Luís tornou-se sócio da Gamecorp, empresa de games que ainda se chamava G4 Entretenimento e Tecnologia Digital. Até aqui a trajetória de Fábio Luís lembra a dos geniozinhos americanos do Vale do Silício que se enfurnam em uma garagem e saem de lá com uma idéia matadora de vanguarda como o Google ou o YouTube, projetando-se para o estrelato dos negócios multimilionários. A Gamecorp continuou a expandir-se. Em junho deste ano, fechou um contrato com a Rede Bandeirantes para alugar seis horas de programação diária no Canal 21. Depois que o contrato foi firmado, a emissora mudou de nome: de Canal 21, passou a chamar-se PlayTV. Oficialmente, trata-se de um arrendamento de horário.
Em janeiro de 2005, apenas um ano depois da chegada de Lulinha à empresa, a Gamecorp já estava recebendo o aporte milionário de 5,2 milhões de reais da Telemar – e Lulinha já era um empreendedor de raro sucesso. A Gamecorp dera um salto estratosférico, coisa rara mesmo num mercado em expansão, como é o caso da internet e dos jogos eletrônicos. A sociedade entre a Telemar e a Gamecorp se materializou por meio de uma operação complexa, que envolveu uma terceira empresa e uma compra de debêntures seguida de conversão quase imediata em ações. O procedimento visava a ocultar a entrada da Telemar no negócio. VEJA revelou a associação em julho do ano passado.
O caso de Lulinha tem uma complexidade maior. Sua relação com a Telemar não se esgota nos interesses de ambos na Gamecorp. O filho do presidente foi acionado para defender interesses maiores da Telemar junto ao governo que o pai chefia. Em especial, em setores em que se estudava uma mudança na legislação de telecomunicações que beneficiava a Telemar. VEJA descobriu agora que a mudança na lei foi tratada por Lulinha e seu sócio Kalil Bittar com altos funcionários do governo. O assunto levou a dupla a três encontros com Daniel Goldberg, titular da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE). Em um desses encontros, ocorrido no início de 2005, Lulinha e Kalil, já então sócios da Telemar, sondaram o secretário sobre a posição que a SDE tomaria caso a Telemar comprasse a concorrente Brasil Telecom – fusão que a lei proíbe ainda hoje. Goldberg, ciente do obstáculo legal, disse que o negócio só seria possível mediante mudança na lei. O estouro do escândalo Lulinha abortou os esforços para mudar a legislação e favorecer o sócio do filho do presidente.
Quando a Telemar fez uma oferta de compra à Brasil Telecom, o mercado interpretou o movimento como um sinal de que a mudança na lei era dada como certa. Paralelamente à oferta, estavam em plena efervescência os encontros de Lulinha e Kalil com Goldberg para tratar dos bastidores da negociação entre duas gigantes da telefonia. Oficialmente nada disso ocorreu. O assessor de Lulinha e Kalil, o jornalista Cláudio Sá, diz que, se houve encontros com Goldberg, foram contatos meramente sociais. Mas do que eles falaram? "Encontros sociais. Aperta a mão. Como vai? Tudo bem? Tudo certo? Esse tipo de coisa", responde o assessor. Goldberg diz que não foi nada disso. Ele conta que conversou com Lulinha e Kalil para aconselhá-los a contratar uma "consultoria tributária e um escritório de advocacia". É bastante improvável que essa seja toda a verdade porque, nessa época, a Gamecorp já tinha consultor. Era Antoninho Marmo Trevisan, amigão do presidente.
A constatação que se esconde por trás disso é a de que Lulinha, depois de receber a bolada da Telemar, começou a comportar-se como lobista da empresa junto ao governo de seu pai. Pode-se afirmar com certeza que em pelo menos um encontro oficial Lulinha tratou de ajudá-la. Antes de entrar o dinheiro da Telemar o lobby da dupla Lulinha-Kalil era feito justamente em favor da concorrente, a Brasil Telecom. Com a ajuda de Lulinha e Kalil, Yon Moreira da Silva, da Brasil Telecom, conseguiu ser recebido pelo presidente Lula em uma audiência que, curiosamente, não constou da agenda oficial do Palácio do Planalto. Ela foi marcada por César Alvarez, assessor especial da Presidência, e durou quase duas horas – sem mais ninguém na sala. Sobre o que Yon Moreira e o presidente conversaram? Segundo Yon Moreira, sobre o projeto Computador Conectado, que visaria difundir a venda de computadores populares e o acesso gratuito à internet. "Lula ficou impressionado com o projeto que apresentei a ele", diz Yon. "Houve uma sintonia entre nós. Mas não falamos nenhuma palavra sobre o filho dele." Yon Moreira completa: "Lula queria que os pobres do Brasil tivessem acesso à internet, e eu tinha o melhor projeto para realizar esse sonho". O auxílio de Lulinha e Kalil ao então diretor da Brasil Telecom é grave à luz de uma informação adicional: o encontro ocorreu no mesmo período em que o representante da empresa pagava 60.000 reais mensais a Lulinha e Kalil a pretexto de patrocinar um programa de games da dupla exibido pela Rede Bandeirantes. Essa é a mais simples e clara demonstração de um lobby empresarial junto ao governo: a Brasil Telecom patrocinava Lulinha e Kalil e, ao mesmo tempo, a dupla abria as portas da sala do presidente da República à Brasil Telecom. Parece inocente. Não é. Como esses encontros ocorreram a portas fechadas e como os interesses das teles eram (e são) bilionários, qualquer simpatia do governo por um ou outro contendor é decisiva.
Em suas visitas a Brasília, Lulinha e Kalil ocupavam uma sala no escritório do lobista Alexandre Paes dos Santos, conhecido como APS (
veja reportagem). O escritório de APS está instalado em uma imponente mansão com quatro andares e elevador na sofisticada região do Lago Sul. Ali, com regularidade mensal, Lulinha e Kalil despacharam por quase dois anos, entre o fim de 2003 e julho do ano passado. A sala usada pela dupla tem 40 metros quadrados. Fica bem ao lado da sala do lobista APS. Há algumas semanas, estava mobiliada com duas mesas. Todas as cadeiras eram vermelhas. Havia dois computadores, duas linhas telefônicas, uma impressora e um único quadro na parede. Lulinha e Kalil tinham ramais privativos, o 8118 e o 8130. Sobre sua relação com a dupla Lulinha-Kalil, APS diz apenas: "Eu emprestei a sala, mas não tenho a menor idéia do que eles faziam lá". Seria ingênuo esperar que dissesse alguma coisa mais comprometedora sobre os vizinhos de sala e colegas por dois anos.
Além da sala, APS também colocou sua frota à disposição da dupla. Quando Lulinha e Kalil começaram a freqüentar o escritório do lobista, seus deslocamentos por Brasília eram feitos em Ford Fiesta. Com cerca de 1,90 metro de altura, Kalil reclamou que o Fiesta era desconfortável e disse que gostaria de um carro mais espaçoso. APS substituiu o Fiesta por um Omega. Enquanto despachavam na mansão de APS durante o dia, Kalil e Lulinha eram hospedados na Granja do Torto ou no Palácio da Alvorada, residências oficiais da Presidência da República. Quando isso não era possível, Kalil ia para o hotel Blue Tree, a menos de 1 quilômetro do Alvorada. Não se conhecem bem as razões pelas quais Lulinha e Kalil mantinham uma sala no escritório do lobista de métodos heterodoxos. O que faziam ali? Por que despachavam dali? Em busca dessas respostas, VEJA descobriu que a sala foi cedida a Lulinha e Kalil como parte de um acordo dele com a francesa Arlette Siaretta, dona do grupo Casablanca, um conglomerado de 54 empresas que, entre outras atividades, faz produção de filmes e eventos, gravação de comerciais e distribuição de DVDs.
Em 2002, Arlette Siaretta e APS se tornaram sócios num projeto de transmissão de imagens digital via satélite. Desde então, a mansão do lobista passou a funcionar como filial informal da empresa Casablanca em Brasília. "Ela me pediu a sala e eu cedi", diz APS. Mas por que a Casablanca teria interesse em instalar Lulinha e Kalil em sua filial informal em Brasília? Apesar de ser dona de metade do mercado de finalização de comerciais no país, Arlette Siaretta tinha um problemão no início do governo de Lula. Ligada ao PSDB e produtora das últimas três campanhas presidenciais tucanas, a empresária encontrou no PT uma muralha que lhe barrava negócios com o governo federal e as estatais, até então uma de suas grandes fontes de receita. Arlette Siaretta precisava de alguém para lhe abrir as portas do governo.
No fim de 2003, o sócio de Lulinha apareceu em seu escritório, em São Paulo, prometendo exatamente aquilo de que a empresária precisava – portas abertas. "Você tem uma grande empresa. Eu tenho acesso às pessoas que decidem. Podemos ganhar dinheiro juntos", teria dito Kalil, conforme o relato feito a VEJA por uma testemunha do encontro. Arlette Siaretta adorou a idéia. Fecharam negócio: Kalil receberia 5% das transações no governo que a Casablanca conseguisse por seu intermédio. Não poderia haver escolha melhor. Os "meninos" do presidente entregaram o que prometeram. Pois bem, Siaretta continuou tendo no governo petista a mesma participação que tinha no mercado nos oito anos dos tucanos, algo em torno de 50% de todos os contratos de filmes feitos para as empresas de publicidade que prestam serviço ao governo.
Não se sabe por que Arlette Siaretta confiou em Kalil. Procurada por VEJA em cinco oportunidades, a empresária não quis dar entrevista. Sabe-se, porém, que uma das melhores credenciais de Kalil para dizer-se influente foi sua proximidade com Lulinha – que, registre-se, não esteve presente na negociação com Siaretta. A pedido de Kalil, a empresária até concordou em trabalhar com Alberto Lima, conhecido como Beto Lima, amigão de Kalil (há quinze anos) e de Lulinha (há nove anos). Dono de um bar em Campinas que falira em agosto de 2003, Beto Lima passou a despachar diariamente na sede da Casablanca, em São Paulo. Siaretta mandou imprimir cartões de visita com seu nome e a custear suas despesas com passagens aéreas e hospedagem no triângulo São Paulo–Brasília–Rio de Janeiro. Assim como Kalil e Lulinha, Beto Lima também passou a usar o escritório de APS em Brasília, que lhe servia de apoio para suas visitas às principais agências de publicidade que trabalham para o governo e para estatais. Beto Lima dá sua versão: "Minha função é prospectar novos negócios para a Casablanca. Usei o escritório como base operacional, apenas para dar e receber telefonemas".
Em julho de 2004, a turma deu uma grande exibição de sua influência para Arlette Siaretta. O cineasta Aníbal Massaini Neto, diretor de Pelé Eterno, um documentário sobre a vida do craque, queria exibir seu trabalho ao presidente Lula, mas não conseguia romper o bloqueio. Arlette Siaretta, que produziu o filme, colocou em movimento sua engrenagem: acionou Beto Lima, que acionou Kalil, que acionou Lulinha – que marcou uma sessão de cinema no Alvorada com a presença do pai. A exibição aconteceu na noite de 13 de julho de 2004. Depois, houve um jantar, com arroz, feijão, peixe e farofa, além de uísque e charutos cubanos. Estavam todos lá: Lulinha, Kalil, Beto Lima, além de Siaretta. A certa altura, já empolgado, Lula fez um discurso no qual começou afirmando admirar duas pessoas na vida. A platéia apostou que uma seria Pelé, o astro do filme e presente à festa. Mas não. Lula disse que admirava Abraham Lincoln e – tchan, tchan, tchan, tchannn ­ Kalil Bittar. Era a gratidão por tudo de bom que Kalil já fizera por Lulinha. A empresária Arlette Siaretta ficou muito satisfeita com o resultado do jantar, pelo acesso que conseguira e pelo prestígio de seus colaboradores.
Lulinha e Kalil mantêm-se mergulhados no mutismo sobre a real dimensão dos negócios e interesses que ajudaram em Brasília. Não falam também sobre seus despachos na sala ao lado da do lobista APS, bem como sobre suas andanças por empresas privadas e gabinetes federais. O assessor da dupla, procurado por VEJA, conversou com a revista. Disse que Kalil esteve na mansão do lobista APS, mas que Lulinha jamais colocou os pés lá. APS desmente o assessor de Kalil e Lulinha. Ele confirma que o filho do presidente despachava no escritório cedido por ele. Quando VEJA quis saber sobre outros detalhes, o assessor disse que Lulinha e Kalil não prestariam nenhum esclarecimento adicional. As investidas de lobista de Lulinha em Brasília e suas conexões empresariais merecem um esclarecimento mais pormenorizado. Todo pai tem direito de ver no filho um Ronaldinho e na filha uma Gisele Bündchen. Da mesma forma é vital tentar entender o mistério por trás de certas transformações extraordinárias dos filhos de presidentes, em especial quando elas ocorrem durante o ápice de poder dos pais. "

"O Golpe da ideologização da campanha"

Transcrevo artigo de Ruy Fabiano publicado hoje no Blog do Noblat:
"O grande mérito da campanha petista neste segundo turno advém menos de seu candidato, Lula, e mais de seu departamento de marketing. Numa manobra competente, os marqueteiros petistas conseguiram tirar a campanha da delegacia de polícia (onde a haviam colocado os companheiros aloprados do presidente) e dar-lhe contornos ideológicos (se consistentes ou não, é outra história).
Saiu momentaneamente de cena o dossiê anti-Serrra, com seu cortejo de delitos e assessores presidenciais inacreditáveis, e assumiu o comando das ações a velha dicotomia esquerda-direita. Alckmin acabou sendo coadjuvante involuntário da manobra ao morder a isca das privatizações. Em vez de explicá-las, passou a defender-se delas.
Jurou que não mais as faria, confirmando perante a maciça maioria do eleitorado, que delas tem remota noção, a idéia de que são malignas para o país. De quebra, com o restabelecimento do debate maniqueísta e a revogação de seu viés criminal, a militância petista, que andava acanhada com as sucessivas quebras de decoro por parte de seu candidato e companheiros, voltou às ruas, bandeiras em punho, a exercer sua obstinada pressão. A memória dos delitos foi para o brejo – e de lá trouxe de volta ao pódio a candidatura Lula.
Alckmin e tucanos não souberam lidar com o tema da privatização, nem servir-se dele para uma abordagem diferenciada da mesma questão, sob um ponto de vista desfavorável ao adversário: o aparelhamento do Estado – este, sim, uma forma oblíqua e deletéria de privatizar, partidarizando o que é público.
Privatização não é, em si, um mal. Basta ver os números da expansão da telefonia brasileira depois de privatizado o Sistema Telebrás – números que o próprio Lula costuma proclamar como performance de seu governo (“Nunca houve, neste país...etc.”).
Há as privatizações necessárias e as inconvenientes – e podem e devem ser discutidas, mas o aparelhamento do Estado, sua ocupação física por pessoas de um único partido, a serviço tão-somente dos interesses da legenda, é nociva em qualquer circunstância.
Cabe aí uma ação crítica, que os tucanos inacreditavelmente não exerceram. Quantos cargos em comissão o governo Lula criou? Em quanto aumentou a despesa de pessoal e com os cartões corporativos só no âmbito do Palácio do Planalto? E a qualificação técnica dos companheiros nomeados para essas funções? Se ao menos existisse, seria menos chocante. Mas não é o caso.
Jorge Lorenzetti, por exemplo, um dos aloprados do escândalo do dossiê, é técnico em enfermagem, e, no entanto, ocupava – pasmem! - a Diretoria Administrativa do Banco do Estado de Santa Catarina, respeitável instituição estatal.
O que faz um enfermeiro em tal cargo? Como seria se um bacharel em administração de empresas ou um economista fosse chamado a uma sala de cirurgia para auxiliar um médico numa delicada operação? Se é assim que o governo Lula trata o Estado, então é hora de propor a reestatização da administração pública.
Com relação à Petrobrás, Alckmin deixou de explorar, em seu bojo, o atualíssimo e controverso tema da política externa de Lula. Poderia dizer, sem medo de errar, que, se alguém está em débito com nossa principal estatal, esse alguém é o governo Lula, que não reagiu ao ultraje que lhe impôs o governo Evo Morales, da Bolívia.
Como pode se arvorar em defensor da Petrobras quem a viu passivamente ser assaltada, manu militari, por um país vizinho e, além de não protestar e acionar os instrumentos legais de defesa, previstos no Direito Internacional – por exemplo: uma representação à Organização Mundial do Comércio -, solidarizou-se com o agressor?
No debate da TV Bandeirantes, em que o tema foi apenas tangenciado, Lula se enrolou. Disse que o povo da Bolívia é pobre (e o nosso é o quê?) e tem direito a explorar suas riquezas. Nenhuma menção ao fato de que a Petrobras era o instrumento de que se servia o povo da Bolívia para explorar sua riqueza natural, mediante contrato, em que a cada parte cabe uma remuneração.
Contrato pressupõe convergência entre as partes. Pode ser rediscutido, mas não violado – e muito menos acrescido do roubo do patrimônio de uma das partes. É crime. E quem tem o dever constitucional de agir em tal circunstância e não o faz peca por omissão. Juridicamente, isso tem nome – e conseqüências.
O debate sucessório, no entanto, banalizou-se em torno da dinossáurica mística esquerda x direita, dicotomia fictícia que sataniza o adversário e, a partir daí, torna desnecessária a discussão de programas, práticas e critérios de governo.
Basta bradar que o adversário é “de direita”, ou que vai privatizar a Petrobras, ou ainda que “pertence à Opus Dei” (mesmo não pertencendo e mesmo que a imensa maioria desconheça o que é efetivamente aquela inofensiva prelazia de beatos da Igreja Católica) para encerrar o assunto.
O maniqueísmo político favorece o simplismo e é um prato cheio para marqueteiros e militantes. E aí, convenhamos, o PT nada de braçada. A menos que a campanha volte à delegacia – e esse retorno seja retumbante – não há reversão à vista."

Bem que eu desconfiava

Informação do site do Claudio Humberto:
"As conversas de José Dirceu com Jorge Lorenzetti, da gangue do dossiê, descobertas pela Polícia Federal, não surpreendem os policiais. A “unidade de inteligência” da qual Lorenzetti faz parte foi criada pelo ex-ministro, segundo Wagner Cinchetto, ex-integrante do SNI petista, revelou há uma semana ao jornalista Jack Chang, do jornal americano Monterey Herald".

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Aprenda como se faz


Se algum político bater à sua porta, ou na sua cidade prometendo alguma coisa faça como esse garoto.

Pimenta no dos outros é refresco

Luis Nassif está empenhado numa "guerra" com o Prof. Fábio Zambiagi devido a uma leitura das estatísticas diferente das suas pregações econômicas. Exibe inclusive texto (parte) do professor e gráfico com a evolução do mínimo desde a década de 80. Na parte que me toca como cidadão a leitura que faço do gráfico e do texto (parte) não são as mesmas do jornalista. As políticas de distribuição de renda que estão por aí não tem como base o crescimento econômico, mas sim do aumento de impostos e achatamento do poder aquisitivo da classe média. A velocidade que o salário mínimo ganhou a partir da criação do Fundo de Combate a Pobreza é impressionante. Tanto FHC quanto o Lula fizeram políticas sociais à custa de quem podia gerar novas riquezas para o país. Pimenta no dos outros é refresco. Como disse outro dia, só não me mudo para a Rocinha ou para o Vidigal porque daqui para frente à violência só vai aumentar. Lula não tem como fazer a minha renda cair mais - aqui no Rio só no PIB foram 27% e olha que eu não tinha gordura para tanto -, e quero ver de onde ele vai tirar sem fazer o país crescer, sem dar um 'pau' nos juros, porque me encontro no meio e sinto o efeito dos dois, de um lado o Governo do outro os banqueiros. E não me venham com essa conversa fiada de crescimento com crédito barato, consignado ou coisa e tal. Deixa o efeito desse mínimo de R$ 350,00 passar e o povão ver que não tem renda para pagar a renovação do empréstimo bancário, pois outra eleição com outro aumento igual só daqui a 4 anos. Só quem ganha com essa política econômica do Lula é a banca. Deviam distribuir a renda não com o meu, mas sim com o dos banqueiros.

Solta 'Os Garotinhos'

Tenho lido alguns comentários para o chuchu convocar uma tropa de 'pitbulls' para soltar em cima do Lula. O voto HH e Cristovam ele já perdeu. Era um voto 'bonitinho' da esquerda ZS que estava fazendo 'birra' com o Lula. E agora está perdendo o pouco do voto 'popular' que detinha. Só existe uma saída: SOLTA 'OS GAROTINHOS'! Será que o pessoal lá do grotão, lá da baixada sabe que o Garotinho está do lado do Alckimn? Sei não, mas a única saída que ainda lhe resta é correr atrás do voto do 'povão' que o Garotinho detêm e remontar a estratégia que ele pensou em fazer quando apareceu ao seu lado, lépido e fagueiro na televisão.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Adeus Chuchu!

Como já declarei no espaço deste blogue no dia da eleição estarei viajando. Não me comove o Lula nem tampouco o Chuchu. Fosse José Serra o candidato dormiria na fila da minha zona eleitoral. Todo mundo sabe da minha queda pelo ex-ministro do FHC, que em seu governo me proporcionou a alegria de ter um presidente do nível de um Clinton, de um Chirac, de um Allende. Pela primeira vez em 60 anos de vida senti-me um cidadão de classe média, nível universitário padrão de vida de primeiro mundo. De lá para cá empobreci, e só não tomo o caminho da Rocinha ou Vidigal porque a violência daqui para frente só vai aumentar. O açodamento do Alckmin em querer ser prefeito de Pindamonhanga em 2010 esquecendo-se do que se decidia em 2006 deu a ele aquilo que mereceu. Em nenhum momento se preparou para o verdadeiro debate, cujo resultado o está jogando ao chão. Foi tímido nas propostas e não saiu daquela imagem de "Zé Bonitinho da Daslu" que para si arvorou. Não ouviu o César Maia e está tendo que amargar a desconstrução que adiou fazer com o Lula. Aquele sorriso irônico de canto de boca mostra para o que veio. Pensou que sedução e eleição fossem sinônimos. E assim teremos mais quatro anos de atraso, de lero-lero e mendicância, de roubo e mensalão juntando quadrilhas antigas às novas, o pior do clientelismo peemedebista com o melhor da hipocrisia petista, que cinicamente tudo faz e nada sabe.

Assinamos em baixo

Não gosto muito do Ilimar Franco, de O Globo. Mas desta vez ele matou a pau. Vejam o que escreveu em seu blogue sobre a polêmica do papel da Imprensa a partir da publicação da matéria da Carta Capital. Assino em baixo:
"Querem saber o que acho da reportagem de Carta Capital?
Eu publicaria a foto do dinheiro. É de interesse jornalístico, ponto. Protegeria e ocultaria minha fonte. É assim que funciona a apuração jornalística. Se um jornalista disser para você o contrário pode ter certeza que estás diante de um mentiroso. A tentativa de criminalizar a apuração jornalística é um erro grave. Tem muita gente boa fazendo isso sem pensar nas consequências para o nosso árduo trabalho diário.É o seguinte: os jornalistas que conseguiram as fotos não revelaram a fonte. Tentaram proteger a fonte. Deviam tê-lo feito? Sim. Deviam fazer como a reportagem de Carta Capital, que conta uma história sem citar uma única fonte sequer. O mesmo método dos três delegados da PF da Veja, no governo Lula, ou das quatro fontes do mercado sobre corrupção no Banco Central, no governo Fernando Henrique. É assim mesmo. São histórias sensacionais, que denigrem instituições e lançam suspeitas sobre pessoas, diretorias ou corporações inteiras, mas sem um único patriota disposto a denunciar publicamente.Fazer certo tipo de jornalismo investigativo é o mais fácil dos jornalismos. Alguém produz um dossiê ou uma história, passa a um jornalista, que faz checagens mínimas e manda bala. Há inclusive técnicas, orientadas por Departamentos Jurídicos, sobre como escrever as maiores barbaridades, sem correr o risco de processo. Acho que qualquer jornalista profissional tinha a obrigação de conseguir aquela foto do dinheiro. Publicá-la não é crime nem é conspiração. Contra fatos não há argumentos. Estão errados os que pensam assim. Estão errados os que tentam construir uma história baseada em boatos que se espalham como praga nestas horas. Infelizmente tem muita gente boa que escreve reportagens usando este método ou baseado em fontes de terceira ou quarta mão.O básico nessa história, do delegado e das fotos do dinheiro, é que se os petistas não tivessem tentado comprar um dossiê, se não tivessem sido presos pela Polícia Federal, nada disso teria acontecido. Se o fato existe, como alguém pode tentar enlamear o exercício da atividade jornalística? Na base da suposição e da insinuação tudo é possível. Menos reproduzir os fatos da forma mais fiel possível.Eu estava trabalhando no dia do acidente do avião da Gol. Sei o quanto foi difícil obter informações. Nem mesmos os militares que estavam na base de Cachimbo tinham informações. Naquele dia ninguém chegou perto do avião nem se sabia onde estava. O absurdo seria produzir um amplo noticiário no dia seguinte, ou naquela noite, sobre algo que não se tinha informação. No dia seguinte foi uma guerra para se confirmar as mortes. Acho que muita gente surtou nesse processo eleitoral. Que a sorte me proteja.Mas deve se dizer, para o bem da verdade, que a reportagem de Carta Capital é apenas um capítulo de um processo que tenta empurrar a atividade jornalística para a partidarização. Este processo teve início nas páginas da revista Veja. É a lei da selva. O que dá para rir dá para chorar. Tinha gente que estava se divertindo com a valentia do covarde, agora todos temos que dormir com um barulho destes.Só tem uma coisa, quem aposta no jornalismo insinuativo, quem se acomoda preguiçosamente nas elocubrações sobre intenções, ao invés de ir aos fatos, não pode reclamar. Quem não aceita a crítica sincera que enfrente as metralhadoras giratórias."

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Este blogue errou

A partir de um PS do Luis Nassif de que "o blogueiro não tem controle como as páginas do seu blogue viram" resolvi rever uma nota minha quando disse que o José Dirceu tinha retido posts do seu blog e não publicado um comentário contrário ao seu. Fui ao histórico do blogue dele e os posts estão lá, inclusive meus comentários. Faço um "mea culpa" e tendo a concordar com a afirmação do Luis Nassif, que "o patrulhamento e a desqualificação é atitude torpe em si". Acho que isso se dá devido a posição de determinados blogueiros que encampam teses da "central de teses do PT" como a da 'não existência do mensalão' e de 'aloprados e meninos' do Guilherme Wanderley dos Santos, e a do 'complô da mídia' da Marilena Chauí.