domingo, 1 de outubro de 2006

A fria festa da democracia

Em 2002 eu não votei. Razões de trabalho me impediram de votar no primeiro e no segundo turno. Se tivesse votado meu voto teria sido do José Serra. Tinha me mudado para Laranjeiras, e me surpreendi com a festa burguesa em torno do candidato Lula. A classe média estava sentindo o declínio em sua renda que a política econômica do FHC tinha promovido a partir de 1999, e cheia de esperança votou no Lula acreditando que ele fosse encarar os banqueiros. A probabilidade disto acontecer acabou demonstrando ser muito maior com os outros candidatos, do que com ele. Como sempre, naquela eleição o seu discurso foi eivado de meias palavras, não dizia o que sabia, nem sabia o que dizia. Conduzido pelo marketing eficiente do Duda Mendonça, que conseguiu incutir no imaginário de todos a célebre frase "a esperança vai vencer o medo" a burguesia saiu às ruas. Bandeiras vermelhas tremulavam por todo canto. Janelas de apartamentos de 300/500 mil reais exibiam um pseudo-socialismo misturado com revolta contra a "real politic". Era "chic" dizer que se estava votando num operário, tremenda catarse. Eu ali, passando de lá para cá transportando material do meu trabalho, sentindo a merda que estava para acontecer. Lula não fez o que a burguesia esperava. Teve que se contentar com a inveja de ver a Argentina encarando a banca. Lula ficou distante, nem uma palavra de apoio deu aos "hermanos". Hoje amargamos um pífio crescimento, enquanto eles crescem a 7/9% ao ano. Se não se deixasse encantar pela sedução de querer que o seu PT se tornasse um partido burguês, nos moldes do PSDB, hoje teríamos uma outra realidade. Para piorar a enrolação, o markentig inventou mais outras duas pérolas: "fome zero" e "herança maldita". Com estas duas enganações conseguiram o tempo que precisavam para adormecer a revolta da classe média, que só se deu conta do estrago quando começaram a pipocar os escândalos. Em seguida mais duas "balas jujuba": "crédito fácil" e "câmbio artificial". Pronto! Estava montada a armadilha que os banqueiros precisavam para se manter cada vez mais ricos. Em seguida, vendo que não dava para se reeleger com o voto da burguesia, Lula jogou todas as suas fichas no voto do eleitorado pobre, no "bolsa família". E de concreto, de crescimento econômico, o que fazia? Nada! Tirou a merenda do garoto rico para dividir com outros cinco garotos pobres. E os dois ficaram com "fome", e o país não cresceu. Ao invés de investir numa lenta e gradual distribuição de renda apostou no pior, e dividiu a renda da classe média com os seus apaniguados, e uns poucos miseráveis. Hoje, nas ruas o resultado: uma chocha eleição, dividida em dois lados, a "elite" (se é que se considera "elite" quem ganha em torno de 1.500 reais) e os "pobres". Sem festa o povo vai às urnas, angustiado, pensando: "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".

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