quarta-feira, 25 de junho de 2008

Quanta tristeza no meu coração...

Aqui sentado, na companhia das rádios que ouço um ligado na música clássica como pano de fundo, o outro no noticiário que ouço do computador, dedilho o teclado enquanto trabalho, olhando o feio e frio tempo lá fora e sentido esta tristeza imensa pela morte de Dona Ruth. Como cidadão sentia orgulho dela, mulher inteligente, doce, mãe e avó de um feminino irretocável. Minhas lágrimas caem como se fosse hoje o dia da morte da minha mãe. Amante das mulheres de classe e sofisticação não posso deixar de fazer uma homenagem a minha maneira, e transcrever abaixo os comentários que leio em alguns blogs, e nos quais formo opinião.

ROBERTO JEFFERSON:
Uma mulher admirável
Admirada por sua competência profissional e intelectual, dona Ruth Cardoso também nos deixou, embora a contragosto, um modelo de comportamento de primeira-dama difícil de ser seguido. Avessa às aparições públicas oficiais, das quais não precisava, ela tinha brilho próprio, apesar da simplicidade com que atuava. Para nós, brasileiros, será sempre uma referência de honradez e discrição. Estudiosa e militante da causa feminina, dona Ruth soube ser uma mulher admirável. Onde quer que esteja, será recebida com reverência.

JOSE DIRCEU
A falta que fará Ruth Cardoso
A morte de Ruth Cardoso, a ex-primeira-dama que está sendo...
A morte de dona Ruth Cardoso, a ex-primeira-dama que está sendo velada hoje na Sala São Paulo, com sepultamento previsto para amanhã, no cemitério da Consolação, representa enorme perda não só para seus familiares, mas também para o mundo acadêmico brasileiro onde sempre foi extremamente respeitada e, realmente, com justiça.Sua formação, trabalho, atuação e os livros que publicou - sobre juventude, violência e cidadania entre outros temas - transformaram-na em uma das principais referências sobre antropologia no país. Nos dois governos de seu marido (1995/2002) fundou e dirigiu o Comunidade Solidária, uma ação de combate a pobreza e a exclusão social que tinha por princípio a participação do voluntariado e menor presença do Estado.

LUIS NASSIF
A morte de dona Ruth
Quando passei na Rua Rio de Janeiro e vi ambulância, corpo de bombeiros, parecia claro que o desfecho se dera.
Como primeira dama, dona Ruth foi um modelo. Jamais abriu mão das convicções políticas, exercitou a área social do governo com vontade da mudança, não se deslumbrou com o poder. Sua discrição, espírito público, seriedade serão lembrados para sempre.
Na história do Brasil moderno jamais existiu primeira dama que somasse tantas qualidades quanto dona Ruth.

REINALDO AZEVEDO
Ruth: altivez decorosa
Morre uma parte da civilidade, da inteligência, do rigor intelectual, da discrição, da altivez decorosa. Ruth Cardoso foi uma das melhores pessoas que conheci — escrevo isso como jornalista, não como amigo ou pessoa que privasse da intimidade do casal Cardoso, o que nunca aconteceu. Em junho de 1997, há exatos 11 anos, a revista República dedicou-lhe uma capa: era uma entrevista que eu havia feito com ela.Foi um encontro agradável, ameno, sereno. Seu marido, o então presidente Fernando Henrique, ela própria e o Comunidade Solidária, programa que presidia e ao qual continuou a dedicar boa parte de seu tempo mesmo depois que FHC deixou o poder (aí com o nome de Comunitas), eram alvos dos ataques da esquerda petista os mais boçais. Tentei arrancar dela uma palavra mais dura contra os detratores. Nada! Imperturbável, serena, expressava a convicção de que o presidente estava criando as bases para tirar o país do atoleiro do Terceiro Mundo e do terceiro-mundismo e defendia com energia o aspecto não-assistencialista do Comunidade Solidária. E estava certa nos dois casos. Ruth sabia ser dura sem ser estridente.Nada a irritava mais — e ela se encarregou de proibir tal tratamento — do que ser chamada de “primeira-dama”. Por que não? Ela me explicou: “Porque é uma tradução muito literal, imediata, do termo em inglês, que tem história. Não passaria pela cabeça de ninguém, nos EUA, dizer que não gosta da expressão first lady. Aqui no Brasil, dama não é um termo que se use...” E foi adiante, explicando que a expressão, em nosso país, designava um outro tipo de mulher. Segundo Ruth, a mulher de presidentes e chefes de governo, na modernidade, “são profissionais, pessoas que têm independência intelectual e pessoal”.