sábado, 24 de março de 2007

As duas frias do Franklin

. Partcipei na manhã deste sábado, dia 24, de um debate com professores e estudantes de jornalismo, na cidade de Araras (cercada de petróleo verde por todos os lados), em São Paulo.
. Fui perseguido por duas perguntas:
- Que tal o Franklin Martins acumular a distribuição de verbas do Governo com a política de informação do Governo?
Resposta – Uma fria.
. Primeiro que já é uma excrescência existir, numa democracia, uma Secretaria que distribui verbas e informação do Governo.
. Uma vez, tentei explicar a um jornalista americano como funcionava isso. Expliquei, expliquei e ele não entendia. Até que ele me olhou e disse: “Ah, já sei, é aquilo que o Mussolini tinha...”
. Já expus aqui que considero o Franklin um jornalista competente e íntegro (clique aqui).
. O problema não é ele. É o segundo, o terceiro, o quarto homem do Franklin – aquele que vai distribuir a verba para a TV Trimbique de Desaparecida do Sul...
. Ao contrário: acho que o Franklin deveria propor fechar a Secom. Fecha e vende os móveis. E cada órgão que faça a sua publicidade da forma mais profissional possível.
. Misturou, vai dar confusão (ou melhor, continuar a dar...)
. Na minha modestíssima opinião, aquilo de que o Governo Lula mais precisa é de um porta-voz que apareça na sala de imprensa do Palácio do Planalto duas vezes por dia, saiba de tudo o que acontece no Governo, tenha autoridade para falar em nome do Presidente da República – e seja bom de televisão.
. Lamento muito, mas o nome desse jogo é televisão e ele ou ela tem que ser telegênico.
. Nos Estados Unidos, o porta-voz da Casa Branca é mais importante do que 90% dos ministros.
. Lembro-me de dois porta-vozes que ajudaram presidentes de forma decisiva: Pierre Salinger, que trabalhou para Kennedy, e depois se tornou repórter da Rede ABC de televisão; e Bill Moyers, que trabalhou para Johnson e depois se tornou um excelente âncora de programas educativos na televisão.
. Não adianta dizer que o Presidente Lula se comunica muito bem e não precisa de quem se comunique por ele. Não é assim que funciona na Casa Branca: o porta-voz ocupa o noticiário das redes de televisão pelo hábito, pela frequência, pela disponibilidade.
. Segunda pergunta: e que tal montar uma rede pública de televisão?
Resposta - Outra fria.
. Primeiro, porque é uma discussão anacrônica. O Brasil deveria ter discutido isso na segunda metade do século passado. Não tem mais espaço no mercado, mesmo que não seja para ganhar dinheiro. A audiência será irrelevante – e ela, portanto, irrelevante.
. Segundo, redes públicas, como a BBC vivem de contribuição do contribuinte, do cidadão, que acha importante ter uma tevê republicana, objetiva, imparcial. Isso começou no início do século passado, com o rádio. Aqui, não vejo como isso seja possível, em 2007.
. Terceiro, montar uma rede de televisão não é brincadeira para amadores: custa um monte de dinheiro. Me lembro do Adolpho Bloch, logo que ele fundou a TV Manchete. Ele contava que depois de tanto esforço, conseguiu botar a tevê no ar. No dia seguinte, acordou e tomou um susto: “Meu Deus, e agora? Tenho que botar tudo de novo no ar. Só que diferente!”
. Quarto, como fazer com as tevês estatais e públicas e educativas? Reúne tudo? É cada um por si? Os governadores vão abrir mão de controlar as tevês educativas estaduais? O Governo federal vai montar uma rede dele próprio no país inteiro?
. E quem vai mandar e quem vai obedecer? Quem vai ser cacique e quem vai ser índio? Vai ser tudo do PT? E se os tucanos ganharem a próxima eleição? Os do PT vão ter estabilidade – e então, vão ficar os do PT e os do PSDB na mesma folha de pagamentos?
. Quem garante que isso aí não vai ser um cabide de emprego para o amigo do amigo do jornalista que não consegue emprego no mercado competitivo?
. E quem constrói a muralha da China e não deixa Governo nenhum meter a mão no conteúdo da programação?
. O George Bush acaba de meter a mão na rede de tevês públicas americanas – quase irrelevantes do ponto de vista de alcance e audiência – ainda que essas redes tenham um esquema de doações e patrocínios quase privado. Bush achou que a PBS era “Democrata” demais.
. E se o presidente eleito José Serra resolver nomear o Reinaldo Azevedo diretor da TV Federal?
. Como diria o Machado de Assis: tudo depende de que lado do chicote você está: se no cabo ou na ponta...
. Dentro do próprio Governo tem uma idéia muito melhor do que essa: a do Ministro Gilberto Gil, que é encontrar mecanismos de estimular e financiar a produção de conteúdos culturais e informativos.
. Aquela idéia da Ancinav que a Rede Globo – et pour cause – conseguiu enterrar.
. E, depois, onde divulgar isso? Onde “pendurar”?
. Com a digitalização, com a abertura do mercado de tevê por satélite e cabo, com a democratização do acesso à banda larga e à internet (inclusive via celular) – isso é o de menos. Vai ter lugar para “pendurar” tudo.
. Franklin: faça como as redes americanas de televisão – não tenha ativo fixo, tenha conteúdo para entregar.
. Faça como Hollywood. Faça conteúdo e venda conteúdo. Tem valor agregado mais alto – vale mais.
. Se o conteúdo for bom, até a Rede Globo compra...
. Quem melhor explicou essa idéia do Ministro Gil sobre a multi-variedade de fontes de provimento de conteúdo associada à multi-variedade de meios para distribuir conteúdo foi uma reportagem do correspondente do New York Times no Brasil, Larry Rohter (aquele que disse que o presidente Lula bebia demais). (Clique aqui para ler).
. Em resumo é só tirar o projeto da Ancinav da gaveta em que Senador Evandro Guimarães escondeu.
(Do blog "Conversa Afiada", de Paulo Henrique Amorim)

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