terça-feira, 26 de setembro de 2006

De barbas, palavras e palavrões

Ainda me lembro quando na eleição de 1989, Lula foi a minha cidade para um comício. Era a oportunidade de conhecer o líder operário que tinha me emocionado, e me levado a escrever um poema sobre a famosa greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, aquela em que os helicópteros do exército deram vôos rasantes sobre a cabeça dos operários. Não fiquei muito tempo. Sai em três minutos, depois de ouvir uma saraiva de palavrões e xingamentos contra o Collor. De lá para cá ele se refinou. O marketing deu a ele uma postura de "paz e amor" que vinha sendo adotada até a bem pouco tempo, antes da crise dos dossiês. Heloisa Helena o chama de "majestade barbuda", e foi essa a impressão que me ficou depois daquele comício. Claro que no embate com Collor, levando em conta que era meu primeiro voto livre votei no Lula por pura contestação, ainda mais que no dia da eleição levei comigo minha filha para mostrá-la a importância de se votar em liberdade. E essa idéia de "paz e amor" me soa falso. Querer falar bonito, querendo construir frases que parecem escritas por outros não lhe cai bem. Lula é um tímido. Seus olhinhos revirados para cima durante os discursos indicam bem. Não resistiria a um teste de personalidade feito por qualquer uma destas psicólogas de revista feminina. Por isso acredito em dois elementos que o tornam verdadeiro diante do povão: os aditivos que consome e a capacidade de odiar. Estes dois elementos fazem dele um grande tribuno nos palanques, criando um personagem bem diferente da figura que tentou demonstrar como presidente. E foi esta a imagem que me ficou quando o vi discursando em Niterói, muito parecido com um outro sujeito que conheci ainda moleque, calado e barbudo, um louco de quem se dizia ter vindo de família abastada, e para quem a gente pagava uns tragos para ver discursando, de pé, no banco da praça, e aplaudir.

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