sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

"Não dormimos há dez dias", diz palestino em Gaza

VANESSA CORREA
colaboração para a Folha Online

O professor universitário Hader Eid, morador na cidade de Gaza, contou à Folha Online por telefone, nesta quinta-feira (8), que não dorme há dez dias por causa dos bombardeios feitos pelo Exército israelense naquele território palestino. Os ataques, que começaram há 14 dias, já mataram mais de 700 e feriram cerca de 3.000 palestinos. "Onde quer que você vá, está exposto ao fogo de Israel. Estamos sendo massacrados, desumanizados."

Nesta quarta-feira (7), um primo do professor teve o filho de 4 anos morto por estilhaços de disparos de tanques que o atingiram na cabeça.

Eid conta que os ataques israelenses já acontecem a cerca de 1 km da casa onde ele mora e que, em uma madrugada, ouviu um prédio do governo federal ser destruído por militares. "O prédio inteiro onde moro estava balançando, caí da cama." Com o susto, o professor passou a dormir no corredor "por segurança, porque não tem janelas".

Ele relata ainda que um conhecido morador do campo de refugiados de Jabaliya foi baleado lá e obrigado, pelos israelenses, a ficar dentro de casa, sem receber auxílio. "Estão atirando em todo mundo que tenta buscar os corpos." O relato vai ao encontro das acusações feitas nesta quinta-feira pela Cruz Vermelha sobre a dificuldade de chegar às vítimas do conflito.

Segundo o professor, três dias atrás aviões israelenses jogaram panfletos sobre o seu bairro, em que pediam que as pessoas deixassem suas casas e dirigirem-se para o centro da cidade.

"Ninguém foi para o centro, mas duas horas depois que eles jogaram os panfletos, eles começaram a bombardear de avião o centro. Se a gente tivesse ido, teríamos morrido."

A Embaixada de Israel declarou que os panfletos, bem como ligações telefônicas com gravações, têm o objetivo de alertar os civis de Gaza sobre áreas que serão bombardeadas e evitar vítimas civis.

Em relação às tréguas que Israel concedeu quarta (7) e quinta-feira para entrada de ajuda humanitária, o professor disse tratar-se de uma "grande mentira". "Eu pude ouvir, durante essas três horas, disparos por toda a parte."

"O que tenho feito é dar entrevistas, como eu estou fazendo com você neste momento, pra conseguir levar nossa voz para fora de Gaza." Sem eletricidade há 12 dias, Eid falou com a Folha Online de dentro do carro, na garagem do prédio onde mora --seu celular estava conectado à bateria do veículo.

Eid diz acreditar que pode haver "paz com justiça" na região "quando 6 milhões de refugiados palestinos puderem voltar às suas casas e terras, de onde foram expulsos em 1948".

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