“Israel tenta censurar imprensa em Gaza”, diz editora da Folha
Carla Soares Martin, de São Paulo
A editora de Mundo da Folha, Claudia Antunes, classificou nesta quarta-feira (07/01) de censura a restrição de jornalistas à Faixa de Gaza, onde ocorre o ataque israelense contra milicianos do Hamas. “Israel está tentando uma censura”, disse.
Claudia conta que, com a restrição de jornalistas internacionais em Gaza – com exceção do americano New York Times e do britânico Independent, que tem correspondentes árabes na região e alguns poucos –, o enviado da Folha, Marcelo Ninio, está tendo que se virar para encontrar informação, com fontes em Gaza, em Israel e com outros veículos de imprensa.
Nesta quarta (07/01), o governo israelense permitiu, depois de recuar da decisão da Suprema Corte, a entrada de alguns jornalistas para acompanhar a ofensiva em Gaza. Não se sabe se algum deles é brasileiro.
“Não há nenhuma pressão de Israel, mas a proibição à entrada em Gaza é claro que prejudica a cobertura e a torna incompleta”, disse o enviado especial Marcelo Ninio, nesta quarta, ao Comunique-se, antes de Israel liberar a presença de alguns jornalistas no embate. Incompleta no sentido de não se ter a versão da mídia internacional, que poderia fazer uma espécie de mediação do conflito, sobre o lado de militantes do Hamas. “Ninguém sabe quantos milicianos do Hamas morreram, por exemplo”, cita Claudia. As informações vem de civis palestinos, pelo celular e pela Internet, que, é claro, mantém uma postura parcial do ataque.
A cobertura da Folha, além do enviado especial, supre-se de informações de agências internacionais e da TV Al Jazeera, que está em Gaza.
Enviado do Estadão diz que Israel não poderia ter influência em Gaza
O enviado especial do Estadão a Israel, Gustavo Chacra, disse ao Comunique-se que, em Israel, Gaza não pertence a ninguém. “Israel e o Egito têm o direito de proibir qualquer um de entrar em seus territórios. Mas não na Faixa de Gaza, que não pertence a nenhum dos dois países. E cada jornalista pode decidir por conta própria se quer se arriscar”. O Egito tomou a decisão de impedir a entrada de jornalistas estrangeiros.
Ao relato de Ninio, Chacra acrescenta que os israelenses são muito atenciosos com a mídia, oferecendo o máximo de informações possíveis, assim como a Autoridade Palestina, em Ramallah.
Sobre a tendência da mídia de enviar correspondentes apenas em casos extremos, como guerras, aos países, Ninio diz que se deve ir atrás de qualquer assunto relevante, Chacra responde com Talese: “Para esta pergunta, respondo com o primeiro parágrafo do livro O Reino e o Poder, do Gay Talese, que conta a história do New York Times. (Lembro de cabeça, mas tenho quase certeza que é assim). 'Em sua maioria, os jornalistas são incansáveis voyeurs que vêem os defeitos do mundo, as imperfeições das pessoas e dos lugares. Uma cena sadia, que compõe boa parte da vida, ou a parte do planeta sem marcas de loucura não os atraem da mesma forma que tumultos e invasões, países em ruínas e navios a pique, banqueiros banidos para o Rio de Janeiro e monjas budistas em chamas - a tristeza é seu jogo, o espetáculo, sua paixão, a normalidade, sua nêmese.'” É assim mesmo, Chacra.
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